O carnaval e o corpo feminino.

Fevereiro 17, 2007

Enquanto escrevo, as mulheres que desfilarão daqui algumas horas no sambódromo do Rio de Janeiro estão preparando os seus corpos, as grandes estrelas da noite. Após meses de malhação diária, massagens estéticas, aulas de samba, ensaios e provas das minúsculas fantasias. As celebridades orgulham-se em divulgar dietas e descrever os tratamentos corporais aos quais se sacrificaram. Os corpos agora estão sendo despidos, depilados. Óleos e purpurina são cuidadosamente aplicados para que brilhem mais e atraiam mais olhares. As mulheres descrevem tudo extasiadas.  Mais tarde, na passarela, a brasileira se mostrará sensual, bonita, dócil e fácil. Os corpos lindos au naturel balançando de um lado para o outro, convidando sensualmente.  

Tudo muito “natural”.

O baterista ensaia um passo e se ajoelha aos pés da linda modelo. A reverência ao corpo. Ela samba a ensaida coreografia em cima de seus saltos imensos e sorri. Canta o samba enredo inocentemente.

A mulher, no carnaval do Rio de Janeiro, contribuí imensamente para essa culto ao corpo brutal que temos no Brasil. Alimenta, também, a objetificação do corpo feminino que não apenas presenciamos na propaganda, mas também no próprio corportamento da sociedade. Afinal, no carnaval, ela mostra que seus atrativos não passam de coxas, peitos e bundas. Não é de se espantar que o mundo pare para olhar — curiosamente — para esse fenômeno.

The festival of Carnival with its spectacular street parades and vibrant music, has become one of the most potent images of Brazil” [O carnaval com os seus desfiles de rua espetaculares e a sua música vibrante, se tornou uma das imagens mais potentes do Brasil.], afirma a Enciclopédia Encarta aqui. É verdade, o carnaval é uma das imagens mais fortes que vendemos mundo afora. A Enciclopédia Encarta foi discreta, no entanto, e não mencionou a imagem-estrela do nosso carnaval: o corpo feminino.

carnivalwoman.png

13 Respostas to “O carnaval e o corpo feminino.”

  1. Regina Says:

    Cris,

    Excelente o post! Eu tb quero escrever sobre isso. Sempre me incomodou muito essa imagem da mulher brasileira que e’ muito poderosa no exterior. Quando as pessoas pensam no Brasil, a primeira coisa que lhes vem a cabeca e’ carnaval e Rio. Para os homens, as mulheres lindas e seminuas.
    Sempre senti um misto de fascinio e desprezo em relacao ao carnaval. Por um lado eu nunca gostei de multidoes e de pessoas agindo fora do controle. Por outro lado eu gostava de assistir os desfiles na tv. As fantasias eram lindas.
    Morando aqui eu resolvi essa contraticao em mim mesma. Desfilei varias vezes no carnaval de rua daqui. Foi uma boa experiencia para mim. Escreverei mais sobre isso mais tarde.

    Beijos,

    Regina

  2. cris s Says:

    Regina,
    Obrigada pelo elogio. Eu também sempre me sentia mal quando alguém me olhava diferente quando eu falava que era brasileira. Gostaria de ter registrado em fotografias esses olhares…E às vezes chegavam até a pedir pediam para dançar samba ou lambada. Mal sabiam p/ quem eles estavam pedindo. Detesto este tipo de comportamento.

    Adoro o carnaval de rua, gosto do carnaval de Salvador e do nordeste. Detesto o carnaval comercial do Rio de Janeiro justamente por esse tipo de atitude. Tudo vale. E as mulheres legitimando tudo. 😦 Que triste.

    bjkas,
    Cris

  3. Edelize Says:

    O estereótipo da mulher brasileira é o de sensualidade, sexy, liberadas, e tudo mais que imagens como o do carnaval espalham pelo mundo. Mas, eu fiquei surpresa ao constatar que este é o estereótipo formado mais pela ala masculina. Ao conversar com mulheres estrangeiras, a idéia que elas têm da mulher brasileira é a da beleza também, mas acima de tudo da auto-confiança. Muitas confessaram que gostariam de ter a mesma atitude, a mesma auto-confiança, e algumas mencionaram que se tivessem esta atitude, talvez a batalha entre os sexos não seria tão acirrada. Achei interessante ouvir isto delas… Talvez, esta mesma imagem de beleza e sensualidade desperte nestas mulheres esta idéia de auto-confiança, mas mal elas sabem que atrás de tudo isto há uma pressão muito grande para exibir o corpo perfeito e todas as neuras associadas a este objetivo (e que de forma alguma está associado a auto-confiança).

    Beijocas e bom carnaval (que falta faz um feriadão em fevereiro…).

  4. Raquel Says:

    Cris, o carnaval do Rio não é só o Sambodromo, tem uns blocos muito legais, como o Boitatá, o Suvaco, As Carmelitas, Simpatia, Bola Preta. Sempre tem uma ou outra de biquininho bancando a passista, mas nada de óóóó. Ao contrário, cada vez tem mais gente fantasiada, muita criançada e tal. Claro, rola muita cerveja e muita azaração, que afinal a festa é pagã.

    Já o Carnaval do Sambódromo… olha essas “celebridades” todas, muito antes delas já tinha passista seminua, nos anos 60, 70, 80. Eu concordo, é a sexualização total. Mas acho também que é o momento de glória daquela mulher da comunidade (veja bem, comunidade, não famosa de TV), pobre, da periferia, estar ali e ser uma vez no ano o centro das atenções. Até onde sei as passistas são da comunidade (tem que ter o samba no pé, né?) e nos carros vão peruas das mais diversas origens. Ela está sendo explorada e usada como objeto? Sim. Mas esse país é tão sem-vergonha, que se bobear é a única hora onde essa mesma mulher “controla” e manda, um pouquinho no jogo.

    E sinceramente, tem gente que gosta de mostrar o corpo. Aí, vai de cada um, né?

    O que me irrita de verdade é que essa imagem estrapola o carnaval. Exemplo: final dos jogos do Pan de Santo Domingo. O prefeito da cidade entrega uma chave simbólica ou coisa que o valha ao Cesar Maia, prefeito da cidade que iria (vai mal e porcamente) receber os próximos Jogos Pan-Americanos: o Rio. Lembro que tinha um efeito com uma bandeira no chão que ia mudando e formando várias imagens, uma coisa bem bacana, até chegar oa logo do Pan (versão de um desenho do Miró). Do nada, surgem umas 30 passistas e a bateria de alguma escola de samba, que ficam lá dançando e puxando para a “farra” os atletas, organizadores, quem quer que estivesse por perto.

    Veja bem, eu acho sim que o samba e tudo que está atrelado a ele é parte real da nossa cultura, do nosso imaginário e da imagem que os outros têm do Brasil e do povo. O problema é que só mostrm as passistas. Pô, cadê as baianas? As crianças? Não dá para mudar?

    Te olharam diferente porque souberam que você era brasileiar? Pois quando eu tinha 19 anos – e cara de 14 (juro!) – estava em um elevador de hotel em Orlando (culpa do Mickey) e um mexicano/uruguaio/sei lá de onde ele era, esperou minhas amigas sairem do elevador e perguntou se eu era brasileira (tinha ouvido a gente conversar em português). Eu disse sim, em inglês, e na maior cara de pau o sujeito começou a falar em sexo, brasileiras e algo do tipo se eu não queria ir sei lá onde com ele. Fechei a cara, respondi em inglês que não estava entendendo nada do que ela falava, quando ele mudou do espanhol para o inglês eu respondi em francês e felizmente chegou meu andar ou eu teria esbofetado o infeliz. Aí, além de safada, brasileira ainda ia ficar com fama de violenta e barraqueira.

    Respondi ao seu convite.Ficou meio confuso, que eu sou confusa, mas é sempre bom a gente pensar. 🙂

    Skindô, skindô, bjs bjs.

  5. Regina Says:

    Cris,

    Mas voce sabe que a minha experiencia no carnaval em Salvador tb nao foi das melhores. Eu gosto muito dos blocos afro. Mas eu nao gosto das ruas lotadas. Eu nao me sinto a vontade porque sempre tem alguem alterado que acaba te passando a mao. Sempre detestei o assedio nas ruas e nos onibus no Brasil. Nesse ponto morar aqui tem sido uma experiencia libertadora.

    PS: Eu tb respondi o seu post abaixo.

    Bjs.

    Regina

  6. cris s Says:

    Edelize,
    Fiquei pensando no que vc falou. Eu morei alguns anos na Inglaterra e na França e não me recordo de ter tido problemas deste tipo com as mulheres. Mas também fico pensando, (porque fiquei um tempo na Austrália e também porque tive alguns bons amigos australianos), o pessoal aí é bem mais liberal comparando com os ingleses e c/ os americanos, *de uma forma geral* — não acha??

    Mas, enfim, acho mesmo que a imagem da mulher despida pode inspirar a idéia da mulher liberta e liberada. E vc tem toda a razão em falar que é um idéia totalmente errada, que só faz c/ que os homens olhem p/ as mulheres como se fossem objetos e também faz c/ que as mulheres se submetam a este tratamento.

    Bom trabalho p/ vc!! Um feriadinho faz falta mesmo, imagino!! 🙂
    bjs

    • Yume Says:

      “Mas, enfim, acho mesmo que a imagem da mulher despida pode inspirar a idéia da mulher liberta e liberada.”

      Se é assim,por que o homem não é retratado desta forma,considerando que ele smepre foi livre? è sim um aidéia totalmente errada e mais um detalhe;Estes “países liberais” legalizaram a prostituição,aumentando a violência conra mulher,abuso de crianças e tráfico de mulheres.Objetificação nosso é sempre problemática e dissimulada para que nós a aceitemos como natural.
      Creio que vc anda muito mal-informada,o proprio americano é machista pra cassete,vide a grande industria pornogr[afica americana,o número de clubs de lap-dance e strip-tease.Se vc considera o brasileiro o mais machista de todossignifica que vc considera a extrema mercantilização das mulheres algo normal.

  7. cris s Says:

    Raquel,
    Nossa, é claro que há muita coisa legal no carnaval do Rio. Eu estou me referindo, especificamente, à imagem da mulher no carnaval, propagada pela mídia. Mesmo que essas mulheres se sintam poderosas durante o desfile, elas, ainda que inconscientemente, contribuem diretamente para que a sociedade as veja como objetos. 😦

    A minha postura qto às insinuações e olhares quando eu falava que era brasileira: Eu senti este tipo de comportamento, principalmente, fora dos Estados Unidos. Como eu morava no estrangeiro, fiz vários amigos e estes me conheciam e sabiam como eu pensava. O problema aparecia, geralmente, quando eu era apresentada p/ alguém. E a minha atitude era, simplesmente, a de dar um gelo glacial (hehe) no indivíduo. Não tinha como não perceber.

    Mas tenho que falar que o meu marido é americano e que ele me respeita e valoriza como pessoa muito mais que qualquer brasileiro que eu conheci. A sociedade brasileira é incrivelmente machista e patriarcal. É claro que há exceções, mas no caso do machismo, são mesmo exceções.

    Vc aceitou o convite da “meme”?? Que legal!! Vou dar um pulinho no blog para ver.

    Bjkas,
    Cris

  8. cris s Says:

    Regina,
    Olha eu nunca pulei carnaval em Salvador. Mas adoro aqueles trios elétricos, apesar da multidão. Sempre acho que vou morrer de medo mas acabo gostando. Mas em termos de carnaval eu sou mesmo bem sulina, hehe. Ops, deixe-me fazer juz ao maravilhoso carnaval de Laguna (RS) e Florianópolis. Já pulei na rua e num clube, com um bloco organizado e fantasia. Amei.
    Gostaria de saber como seria desfilar em S.F. Imagino que vc tenha se divertido muito c/ a comunidade brasileira!! Quando é o desfile??

    bjs,
    Cris

    P.S. Respondi o teu comentário abaixo. 🙂


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