Deixem-me relativizar o título: o meu coração está onde eu estou, graças aos bons céus e a todas divindades. Mas está um pouco em São Francisco. É que muita coisa boa aconteceu lá. Mais precisamente, perto da Golden Gate Bridge. Ou, simplesmente, olhando para a tal da ponte. Ou, ainda, atravessando-a: de lá, para cá; de cá, para lá.
Atravessar pontes: essa é a história da minha vida. Mas não é, também, a história de todo mundo?
É que acho que o espaço tem algo determinante, sim. Algo que influencia, inspira e molda certos acontecimentos e pessoas. É por esse motivo que eu gosto de voltar à São Francisco, para recuperar o momento.
São Francisco, Restaurante Neptune’s Palace, Pier 39. A vista é deslumbrante: a ilha de Alcatraz fica bem na frente e, à esquerda, um pouco mais longe, avista-se a Golden Gate Bridge em todo o seu esplendor. Bem verdade, a real atração da Golden Gate para mim, reside em seu charme. Quase sempre envolta pela neblina, mesmo nos dias de verão, ela faz um jogo de esconde-esconde com o olhar. Ele se mostra, como sempre, um verdadeiro gentleman: sabe escolher o meu vinho, adivinhando o meu paladar. Raro isso, penso. Rara essa qualidade de alquém descobrir exatamente o que você gosta. De se empenhar em descobrir, de testar sabores, bouquets e texturas, somente para ver o teu prazer. E ele é assim. E é assim que eu digo sim, que a espera chega ao fim. E ele, mais feliz do que os leões marinhos que estão lânguidos a se aquecer, com mais vigor do que o rapaz que passa correndo, com mais carinho do que o namorado loiro que olha longamente para os olhos azuis da namorada, – simples e plenamente feliz, abaixa a cabeça com humildade (e um certo alívio também, parecia) e agradece. Não sei exatamente a quem ou ao quê ele agradeceu. Mas foi um gesto muito belo, quase mítico. Desde então, voltamos ao Neptune’s Palace duas vezes. E ele sempre lembra. Eu lembro também, admito. 🙂
As fotos são minhas. A última eu tirei do Neptune’s Palace, em agosto de 2006.
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